O Brasiliense sente as consequências por ter perdido o título do Candangão para o Gama, no último sábado. A derrota é ainda mais amarga, porque o time havia vencido o primeiro jogo por 3 x 1, mas não conseguiu aproveitar a vantagem na segunda partida. Foi derrotado por 2 x 0 e viu o maior rival conquistar o 13º título local nos pênaltis. Na segunda-feira (31/8), o clube amarelo anunciou, oficialmente, a saída do técnico Márcio Fernandes, 58 anos. Ele foi substituído por Edson Souza, 55, ex-jogador do Fluminense, campeão brasileiro em 1984. Essa é a terceira troca de comando do time de Taguatinga em menos de um ano.
A segunda passagem de Márcio Fernandes pelo Brasiliense começou em 17 de fevereiro deste ano - a primeira vez foi de 2012 a 2013. Em 2020, o treinador assumiu a vaga deixada por Mauro Fernandes quando o Candangão estava na sexta rodada da primeira fase e o Jacaré figurava na quarta posição, com 10 pontos. O filho dele e auxiliar técnico Márcio Fernandes Júnior também deixou o clube. A passagem dos dois pelo time teve 77,8% de aproveitamento. Em 12 jogos, foram nove vitórias, um empate e duas derrotas.
Diferentemente de Márcio Fernandes, o novo técnico nunca atuou no futebol candango. Apesar de ser natural de Santo André (SP), Edson Souza mudou-se para o Rio de Janeiro com 10 anos e construiu a carreira como treinador no estado carioca. O último clube que comandou foi o Resende, em que teve apenas uma vitória no Campeonato Carioca 2020, sobre o Cabofriense, em nove jogos. Também teve passagens por Nova Iguaçu, Bangu, Friburguense, Audax Rio, Cabofriense e Portuguesa. Segundo ele, o namoro com o Brasiliense era antigo, com contatos em 2018 e 2019. Por saber sobre a possibilidade de um novo convite, Edson conta que se manteve atento ao time no Candangão.
Histórico no Tricolor
Antes de tornar-se técnico, porém, Edson era jogador, mais especificamente, um volante de força física e marcação intensa. Revelado no Bonsucesso, viveu o auge da carreira no Fluminense. Logo no ano de estreia pelo Tricolor, em 1984, sagrou-se campeão brasileiro e defendeu o clube das Laranjeiras até 1987. Depois, atuou por times como Cruzeiro, em que foi campeão mineiro, Vasco e América-RJ. Como dono da prancheta, o ex-jogador garante prezar por um futebol agressivo. "Embora eu tenha sido volante, sempre que posso formar as minhas equipes, busco primeiro jogadores que têm mais de uma função, que sejam versáteis", diz.
Aos 55 anos, estreará no futebol candango como treinador. Acompanhado do auxiliar técnico Ricardo Cruz, Edson mal chegou na capital federal e já comandou o elenco do Brasiliense no Centro de Treinamento na manhã de ontem. "Sei que o elenco vem de um desconforto por perder um título. Foi mais uma conversa para levantar a moral dos jogadores. E podemos ver de perto os jogadores que não vinham jogando", conta. A pressa é pela proximidade da estreia do Jacaré na pré-Série D do Campeonato Brasileiro, que já será no domingo, às 16h, fora de casa, em confronto eliminatório contra o Tocantinópolis-TO, que usará o Sub-23 do Botafogo/RJ.
Cinco perguntas para Edson Souza, o novo técnico do Brasiliense
Recém-chegado no Brasiliense, você terá apenas uma semana para o próximo jogo, contra o Tocantinópolis-TO, pela Série D. O que foi possível sentir da equipe?
Sei que o elenco vem de um desconforto por perder um título. O meu primeiro treino com o time foi mais uma conversa para levantar a moral e o astral dos jogadores. Podemos ver de perto os jogadores que não vinham jogando. Fizemos um jogo treino aqui para ter uma real ideia do que temos. Claro que, para nós é sempre importante ver os jogadores dentro do campo, que entra uma série de situações que se requer para uma análise com maior precisão, como psicológico, concentração. São jogadores com uma rodagem grande, então a primeira preocupação era saber como estavam e levantar a moral deles, porque não pode ficar debruçado em cima de desconfortos e coisas que já passaram, tem de olhar para frente e procurar recompensar isso fazendo uma grande Série D para buscar o acesso. O Brasiliense é um time de camisa forte e tem de fazer valer isso dentro do campo, jogando futebol e procurando se impor com o elenco que temos.
Já foi possível conhecer o elenco?
Conhecemos jogadores de vê-los jogar em outras equipes, no nosso trabalho estamos sempre observando e, aqui, são poucos os campeonatos que estão em andamento. Nós, como treinadores, estamos atentos a tudo, até porque em 2018, 2019, já havia um namoro antigo com o Brasiliense e sabia que era um clube que eu poderia vir trabalhar e na nossa profissão tem de acompanhar tudo. Eu estava acompanhando o campeonato na parte final, assisti ao jogo contra o Real Brasília. A partir do momento que contata, eu procurei ver os jogos. Claro que quando está trabalhando diretamente com o jogador, tem mais propriedade para analisar, porque está vendo de perto o desenvolvimento do jogador.
Quais são as mudanças que pretende implementar na proposta de jogo do Brasiliense?
Sobre mudança de filosofia, cada treinador tem suas ideias e também respeito a filosofia do clube, mas vou tentar emplacar alguma coisa diferente, é, por isso, que as mudanças acontecem, para propor algo novo. Pode ter certeza que, dentro das minhas ideias, vou procurar implantá-las da melhor maneira possível para colher os frutos em cima disso. Nem sempre é possível aplicar as nossas ideias 100%, mas vou tentar fazer o máximo possível no Brasiliense.
Sua carreira, até o momento, foi focada no futebol carioca. O que te trouxe à Brasília? E quais as expectativas no novo clube?
Sou um paulista, mas, desde os 10 anos, moro no Rio de Janeiro. Como joguei em várias equipes do Rio, a tendência natural foi começar a trabalhar no Rio quando me tornei treinador, por ser conhecido lá. E, ao longo dos últimos cinco anos, eu sempre busquei uma oportunidade fora do Rio, mas as coisas não aconteciam. Tive a oportunidade de trabalhar na Arábia Saudita, já dei uma saída. Mas sempre tive o desejo de trabalhar em outro estado, até para ampliar o leque de opções de carreira e conhecer novos jogadores. Faz parte do processo não militar somente em um lugar. Mas, nas duas vezes que o Brasiliense me contactou, em 2018 e 2019, eu estava trabalhando e gosto de cumprir os meus contratos. Agora, surgiu a oportunidade. Eu estava em casa e não tinha como dizer não para o Brasiliense e alimentar um desejo meu, de trabalhar fora do Rio. Estou muito satisfeito com a minha chegada aqui e vou dar o meu melhor para chegar o mais longe possível, em busca do acesso à Série C.
Como jogador, vocÊ atuou como volante. Agora, como técnico, gosta de jogar com o time mais fechado ou prefere um estilo mais ofensivo?
Embora eu tenha sido volante, sempre que eu posso formar as minhas equipes, escolher os jogadores, eu busco primeiro jogadores que têm mais de uma função, que sejam versáteis. Sou um treinador que pensa para frente. A equipe precisa ter um equilíbrio, não é só atacar, porque a equipe acaba ficando vulnerável atrás. Mas posso garantir que prezo um futebol agressivo, de não esperar a coisa acontecer. Nem sempre é possível, seja pelos jogadores que temos em mãos, seja pelo adversário, que às vezes impõe uma situação contra a sua. Costumo definir uma partida de futebol como um duelo de imposições de estilo, lembrando que os jogadores têm de conseguir dar a resposta. Cabe ao treinador ser inteligente e buscar um equilíbrio com a matéria prima que tem nas mãos. Mas, nas equipes que trabalho, sempre busquei ser agressivo. Vamos ter uma leitura de qual o material humano que temos e, se for necessário, solicitamos alguma contratação.