No ano passado, primeiro ano em que competiu no adestramento paraequestre, os resultados foram expressivos. Flávia venceu os principais torneios. O principal deles, o Campeonato Brasileiro de Adestramento Paraequestre. A fisioterapeuta conquistou a prova da série de novatos, dedicada a cavaleiros que nunca participaram da competição principal. Flávia também foi campeã brasiliense e faturou o primeiro lugar do ranking do DF de sua categoria, grau V, dedicada a pessoas com deficiência visual.
O caminho até o pódio da modalidade não foi fácil. Aos 11 anos, Flávia descobriu a doença de Stargardt, que causa perda de visão progressiva. Hoje, de acordo com os médicos, ela tem menos de 10% da visão.Mesmo com as dificuldades, ela se formou em fisioterapia. Exerceu a profissão, mas largou após o agravamento da doença.
O amor pelo hipismo surgiu mais tarde. “Eu nunca pratiquei nenhum esporte por conta do problema com a visão”, conta. Em 2012, com a compra de Frieske, um cavalo da raça friesian, o interesse pelo hipismo aumentou. “Sempre gostei de cavalo, desde criança, porque meu pai criava, mas nunca tinha feito hipismo e montava só na fazenda”, relembra. A raça de Frieske é indicada para o adestramento, única modalidade paralímpica do hipismo. Com a coincidência e a vontade de aprender, Flávia começou a praticar o esporte.
No início,um acidente no meio do caminho quase a fez desistir da modalidade. Em 2013, primeiro ano de prática junto com Frieske, ela sofreu uma queda enquanto treinava com o cavalo. O acidente quase deixou Flávia paraplégica. “Quebrei a coluna, fiz cirurgias e tive que colocar pinos e placa. Fiquei um ano e meio sem montar”, conta, após superar o trauma. “Como em qualquer relacionamento, a gente se entende muito, mas brigamos de vez em quando”, brinca.
Parceria
O técnico Guilherme Magalhães conta que a relação de Flávia com o animal é um dos pontos que garantiu a evolução rápida no esporte. “Geralmente, uma pessoa que é inexperiente e monta um cavalo muito novo tem muita dificuldade para desenvolver um trabalho com ele”, analisa o treinador. Guilherme treina Flávia há cinco anos.
“Ela conhece o Frieske como a palma da mão, mesmo com a deficiência visual. Ela chega perto e sabe como ele se sente”, testemunha. Guilherme dá aulas de hipismo desde os 17 anos e ressalta que o conhecimento do cavaleiro sobre o animal é essencial na prova. “Nem sempre o melhor competidor vence. O envolvimento com o cavalo e conhecer os bastidores podem fazer a diferença no torneio”, defende.
Treinamento para o Campeonato Brasileiro
A programação para o início do ano é ganhar ritmo. Flávia e Frieske fazem treinos mais leves visando evitar lesões ao longo das competições. Neste ano, o primeiro torneio é o Campeonato Brasileiro de Adestramento Paraequestre, em março. O objetivo é melhorar os índices e resultados. Guilherme lembra que competir internacionalmente também é um deles. “Queremos ir primeiro para a América do Sul e depois chegar na Europa, que é mais forte”, analisa.
Para chegar lá, a atleta conta com a ajuda de várias pessoas. A equipe multidisciplinar é formada pelo treinador, tratador de cavalos, marido e pela sobrinha. Todos têm papel fundamental no desempenho final. “É impressionante como o Frieske muda quando o Ronaldo, tratador dele, não pode nos acompanhar na prova. Eu sinto falta da família, que sempre me acompanha”, relata.
Flávia também conta com o auxílio do campeão paralímpico Sérgio Oliva. “Conheço o Sérgio e ele é um exemplo para mim. Dá dicas sobre como correr atrás de patrocínio e indica pessoas que podem nos ajudar”. O brasiliense participou de sua terceira Paralimpíada no Rio, em 2016, e voltou para casa com duas medalhas inéditas.
Medalhas brasilienses no hipismo paralímpico
> Marcos Alves (Joca)
Bronze em Pequim-2008 no adestramento livre
Bronze em Pequim-2008 no adestramento individual
> Sérgio Oliva
Bronze no Rio-2016 no adestramento
Bronze no Rio-2016 no campeonato individual misto