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Sem autódromo, pilotos de Brasília batalham por profissionalização na Stock

Geração de pilotos de Brasília batalha por profissionalização na Stock Talentos de Brasília desafia a falta de estrutura na capital federal; autódromo está fechado desde 2014

postado em 26/09/2018 11:05 / atualizado em 26/09/2018 11:53

Barbara Cabral/Esp. CB/D.A Press
Viver de uma paixão é um sonho difícil no esporte. No automobilismo — em que o Brasil ficou sem representantes na Fórmula 1 em 2018 após 48 anos —, o caminho viável para se profissionalizar no país é a Stock Car. Brasília, cidade que revelou o tricampeão mundial Nelson Piquet e que tem um autódromo batizado com o nome do ex-piloto fechado desde 2013, atualmente se vê representada na principal categoria do automobilismo brasileiro com Lucas Foresti, na 16ª posição, e Guga Lima, na 25ª. Se depender de outros três talentos, porém, em pouco tempo a capital federal contará com mais competidores no grid.

“É a categoria mais importante da América do Sul, que faz o automobilismo brasileiro estar vivo, sustenta a modalidade”, aponta Pedro Cardoso, piloto brasiliense de 19 anos. Ele e os também pratas da casa Raphael Reis, 25, e Gustavo Bandeira, 20, estão na porta de entrada da Stock Car. Os três disputam a Stock Light, que tem regulamento similar ao da série principal, além de disputas nos mesmos dias e autódromos. O campeonato, que funciona como uma espécie de acesso à categoria principal, promove incentivos ao campeão e ao melhor estreante da temporada.

Mais experiente do trio, Raphael Reis é o que está mais perto de realizar o sonho de se profissionalizar. No terceiro ano que disputa a Stock Light, ele lidera a competição, com 160 pontos, restando duas etapas para o fim do campeonato. Ele venceu a segunda corrida da sexta etapa, no fim de semana passado, no autódromo Velo Città, em Mogi Guaçu, e ultrapassou Enzo Bortoleto, que está com 158 pontos. “Eu tive um primeiro ano muito conturbado em que não consegui me ajustar. No segundo, com a W2Racing, equipe que estou hoje, faltou pouco para o título. Agora, espero que venha”, explica o piloto, que ganhou a terceira corrida na temporada.

Bons pilotos começaram a tomar gosto pela velocidade nos karts de Brasília. Com Raphael Reis não foi diferente. Após iniciar na modalidade aos nove anos, ele competiu por uma temporada na Fórmula 3 e migrou para os carros de turismo. Passou mais um ano correndo de Mini Challange, categoria com carros Mini Cooper. Depois, disputou o Campeonato Centro-Oeste de Marcas e Pilotos e, agora, está na Stock Light. “Sempre mirei a Stock Car”, ressalta. “Se quiser ser profissional no automobilismo no Brasil, tem de pensar na Stock. Infelizmente, não tem muito para onde ir e é uma categoria muito importante, com grandes nomes brasileiros e até internacionais hoje em dia.”

Em busca de contratos

Barbara Cabral/Esp. CB/D.A Press
Assinar contrato, receber remuneração, prestar contas. Lidar com o automobilismo como um trabalho é o que fez Pedro Cardoso visar a Stock Car. Em sexto lugar na Stock Light, com 109 pontos, o brasiliense venceu a segunda corrida dele na temporada no último fim de semana. O jovem, que começou a correr de kart há uma década, reconhece que poderia tentar se profissionalizar nos Estados Unidos, mas o investimento seria bem maior.

No automobilismo, ele conquistou o título da Fórmula 4 Sul-Americana, em 2015, passou pela Fórmula 3 no Brasil, em 2016, e pela mesma categoria na Europa, em 2017, até pilotar pelo primeiro ano um carro de turismo na Stock Light, nesta temporada.

Também estreante na Stock Light, Gustavo Bandeira comemora a oportunidade de brigar por uma vaga na categoria principal. “A Stock é uma das categorias que tem o maior nível de pilotos, com gente que já andou na Fórmula 1, na Indy”, almeja o piloto com passagens pelo Campeonato Brasileiro de Endurance, Campeonato de Marcas e Pilotos, Fórmula 3 Brasil, Fórmula 4 ADAC, Fórmula 4 e Fórmula Jr.


De olho na iniciativa privada


Enquanto o Brasil vive uma temporada sem pilotos na Fórmula 1, após quase cinco décadas bem representado — foram 48 anos que renderam oito títulos ao país —, a cidade do último brasileiro a disputar a principal categoria do automobilismo está com o autódromo fechado há quatro anos. Antes mesmo de Felipe Nasr correr na F-1 em 2015, as obras do Autódromo de Brasília que visavam receber a Fórmula Indy estavam embargadas — apenas 40% da reforma prevista foi finalizada e a organização da competição cancelou a etapa na capital federal.

Barbara Cabral/Esp. CB/D.A Press
Desde 31 de julho de 2017, a praça esportiva é alvo de procedimento de manifestação de interesse por meio de uma parceria público-privada (PPP). Até hoje, porém, a concessão do Autódromo Internacional Nelson Piquet à iniciativa privada não saiu do papel. “Brasília está deixando de formar piloto, de trazer corrida para a cidade. É uma pena ver uma pista reconhecida no mundo todo abandonada”, lamenta Pedro Cardoso.

Gerente de Formatação de Negócios da Terracap, João Veloso estima que a publicação do edital da PPP ocorrerá a partir do meio de outubro. “Estamos com esses processos bem avançados”, disse. Após a publicação do edital, as empresas interessadas têm 45 dias para apresentar as propostas. Em seguida, há um prazo de análise da comissão de licitação para verificar se as ofertas atendem a qualificação técnica para, então, declarar a empresa vencedora e fazer a assinatura do contrato.

“A nossa meta é passar a bola para a iniciativa privada até o fim do ano, mas existem diversas variáveis que temos de lidar nesse caminho”, pondera João Veloso. Enquanto isso, a cidade perde uma geração de potenciais pilotos por falta de local de treino. “Brasília nunca parou de revelar bons pilotos e segue com uma molecada vindo do kart muito forte”, observa Gustavo Bandeira. O colega Raphael Reis correu no local pouco antes da reforma que, segundo previsão inicial, levaria três meses. “Nós corremos o Brasil inteiro e vemos tantos lugares longe da estrutura ideal, distante de hoteis, enquanto temos um autódromo no centro da capital abandonado”, lamenta.