O Rio Grande do Sul conta com uma defesa feminina no time de futebol de 7 que representa o estado na 22ª edição das Paralimpíadas Escolares Brasileira. As estudantes Fabiana Fontana da Silva, 15 anos, e Paola Daniela dos Santos, 13, foram atraídas para o esporte por meio do atletismo e, após serem convidadas para experimentar o futebol praticado por atletas com paralisia cerebral, aceitaram o desafio de compor a zaga do time. A competição escolar está sendo disputada nesta semana no Centro de Treinamento Paralímpico, em São Paulo.
A equipe em que Fabiana e Paola se destacam no meio dos demais jogadores — todos meninos — é comandada pela técnica Claudia Alfama e a auxiliar Ana Patrícia Andreoli. Foram elas as responsáveis por garimpar as meninas para compor o elenco misto do Rio Grande do Sul no torneio escolar deste ano. A abertura ocorreu na modalidade com o objetivo de incentivar o aumento da participação feminina no paradesporto brasileiro.
Principalmente nos esportes coletivos, em que o Comitê Paralímpico do Brasil diz haver mais dificuldade de agregar um número mínimo de atletas femininas para se montar equipes para poderem competir, o regulamento permite que as mulheres participem da competição com homens. “É uma maneira de estimularmos as mulheres a sair de casa, buscar a prática esportiva e recuperar um pouco da autoestima”, explica Décio Roberto Calegar, secretário-geral as Paralimpíadas Escolares.
Décio argumenta que a vergonha de sair de casa por causa da deficiência é muito mais forte entre as mulheres do que entre os homens. Para o secretário, a convivência no esporte coletivo colabora para que elas percebam que os demais integrantes dos times estão andando de ônibus, indo treinar e seguindo uma rotina sem precisar se intimidar. “A vantagem de as meninas passarem por essa experiência na fase escolar é romper com esse autopreconceito delas muito mais cedo. Muitas acabam até migrando de modalidade depois”, completa Décio.
De 73 atletas que competem no futebol de 7 nas Paralimpíadas Escolares de 2018, cinco são meninas. Além da dupla de zaga do Rio Grande do Sul – que também é a única equipe a contar com mulheres na comissão técnica –, completam a lista: Gabriela Freitas, no time do Distrito Federal; Raquel Lima, por Minas Gerais; e Jamile Vitória Santos, no Pará.
Mais abertura para os próximos anos
A participação feminina em times mistos ainda não ocorreu no futebol de 5, praticada por deficientes visuais. O secretário-geral das Paralimpíadas Escolares, porém, prometeu que a modalidade permitirá equipes mistas nas Paralimpíadas Escolares do ano que vem.
Mas a mudança na regra, por si só, não garante transformações profundas. No basquete em cadeira de rodas 3x3, Vanessa Taís de Souza, 16 anos, é conhecida por todos. Pelo segundo ano consecutivo, a jogadora do time da Paraíba é a única menina na disputa da modalidade. “Tem de trazer as meninas para, pelo menos, poderem vivenciar o esporte”, defende Romero Ramos, treinador da Paraíba. Segundo ele, a visibilidade pode inclusive levar a atleta para disputar outros campeonatos, caso cresça na modalidade.
O vôlei sentado é a outra modalidade coletiva que permite a participação de equipes mistas. José Guedes, técnico da Seleção Brasileira feminina de vôlei sentado, que ganhou o bronze nos Jogos Paralímpicos do Rio-2016, esclarece que existe uma preocupação mundial para que haja o empoderamento das mulheres no mundo paradesportivo. Estratégias como as equipes mistas nos jogos escolares fazem parte da tentativa de estimular a participação de meninas mais jovens. “Isso acarretará mudanças a longo e médio prazo para que, quem sabe um dia, mulheres procurem espontaneamente o esporte”, explica o treinador.