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Brasília recebe Campeonato Brasileiro de Tercetos neste fim de semana

Competição ocorre desta sexta-feira a domingo, no Shopping Pier 21. Torneio reúne a elite nacional da modalidade, que atravessa fase de transição no país para se manter no gosto popular

postado em 12/09/2019 23:42 / atualizado em 13/09/2019 00:00

<i>(Foto: Minervino Junior/CB/D.A Press)</i>

Os melhores jogadores de boliche do país estão em Brasília para a disputa do Campeonato Brasileiro de Tercetos, desta sexta-feira (13) a domingo (15), em um moderno espaço dedicado à modalidade no Shopping Pier 21. As partidas serão realizadas a partir de 8h30, com as primeiras divisões feminina e mista. Às 14h30, começa a disputa da segunda divisão mista. A competição conta pontos no ranking nacional para definição das Seleções Brasileiras e terá as ilustres presenças de Marcelo Suartz, que conquistou recentemente a medalha de prata nos Jogos Pan-Americanos de Lima, e da recordista continental Stephanie Martins, única atleta do Brasil em atuação na liga profissional dos EUA. 
 
Com três medalhas de Jogos Pan-Americanos no currículo – bronze em Guadalajara-2011, ouro em Toronto-2015 e prata em Lima-2019 –, o paulista Marcelo Suartz, 31 anos, está especialmente motivado para a competição em Brasília e espera fechar a temporada com mais um título nacional. “Passei por algumas dificuldades pessoais recentes. Por isso, minha preparação para o Pan foi focada no aspecto mental, com muita monitoria e meditação. Felizmente, funcionou. Acho que não teria conseguido sem esse suporte psicológico diferenciado”, comenta o vice-campeão pan-americano, que perdeu a final por diferença de um ponto, por 190 x 189, contra o norte-americano Nicholas Pate. 
 
A força mental, no entanto, não é o único atributo de destaque no estilo de jogo de Marcelo Suartz. Em uma modalidade considerada pouco exigente em relação ao condicionamento físico dos atletas, o competidor aposta na boa forma física como diferencial nos torneios que disputa. “A nutrição, a preparação mental, o aprimoramento técnico e a condição física contam bastante. Cada ponto desse pode ser determinante no resultado final. Várias vezes, em partidas decisivas, percebi que meus adversários demonstravam cansaço, enquanto eu ainda me sentia bem. Por isso, não deixo de cuidar da preparação física”, comenta o bolicheiro especialista em marketing digital.
 
Entre as mulheres, as atenções se voltam para a também paulista Stephanie Martins, 28 anos, dona do recorde pan-americano da modalidade, com média de 253 pontos por partida (em 300 possíveis), obtido no Campeonato Pan-Americano de 2018, na República Dominicana. Sem rivais à altura em território brasileiro, a atleta do Clube Pinheiros compete há quatro temporadas na liga profissional norte-americana. “É a forma que tenho de evoluir no esporte. Mesmo sem acompanhamento técnico, entro em contato com um nível mais elevado de competição e busco me manter em evolução”, comenta.
 
Em novembro, Stephanie Martins encerrará a temporada competindo na Copa do Mundo, na Indonésia. Para sonhar com um bom resultado no torneio internacional, apostou na reedição de uma antiga parceria. Neste Campeonato Brasileiro, em Brasília, será orientada pelo técnico Guga Dias, com quem iniciou na modalidade há 20 anos. “A Copa Mundial exige uma preparação mais profunda. É isso que vamos buscar fazer até a competição. Stephanie tem um grande potencial, que pode ser trabalhado para fazer frente às competidoras da elite internacional”, diz o treinador, referindo-se especialmente às rivais de Colômbia, EUA, Suécia, Coreia do Sul e Singapura. 


253 pontos
Recorde pan-americano de média de pontuação,
estabelecido por Stephanie Martins

<i>(Foto: Minervino Junior/CB/D.A Press)</i>

Esforços de preservação e desenvolvimento

Sucesso em décadas passadas, o boliche atravessa período de transição e adaptação aos tempos atuais. A título de demonstração, o esporte chegou a integrar o programa olímpico dos Jogos de Seul, em 1988, mas não se estabeleceu nas edições seguintes do evento. Atualmente, em várias partes do mundo, sofre com a redução no número de atletas de alto rendimento. Em parte, a motivação da crise seria a ascensão dos jogos eletrônicos e novas tecnologias, que atraem mais atenção frente a uma modalidade tradicional.
 
“Ao longo da nossa história recente, o Distrito Federal viu pistas de boliche abrirem e fecharem no Conic, no Venâncio 3.000, no Conjunto Nacional, no Pátio Brasil, no Gama, no centro de Taguatinga, na Asa Norte e em São Sebastião. Atualmente, temos três estabelecimentos em funcionamento: no ParkShopping, no Pier 21 e no Shopping JK (em Taguatinga). Apesar dessas oscilações, ainda é um bom negócio”, acredita Guy Igliori, presidente da Confederação Brasileira de Boliche (CBbol), que tem sede em Brasília. 
 
De acordo com dados fornecidos pelo dirigente, o Brasil conta hoje com 1,5 mil atletas federados – um patamar ainda ínfimo se comparado com as potências da modalidade. Nos Estados Unidos, que conta com uma liga profissional do esporte, o número oficial de competidores caiu de 2 milhões para 1,5 milhão nos últimos 10 anos. No entanto, no mesmo período, foi registrado um significativo aumento entre os frequentadores das casas de boliche, saltando de 48 milhões para impressionantes 70 milhões. 
 
“É uma questão de gestão. Antes, nos EUA, para o atleta ser federado e entrar no ranking nacional, era necessário jogar toda segunda-feira, ao longo de 42 semanas. Essa obrigatoriedade não existe mais, o que provocou uma retomada no interesse pela modalidade recentemente. No Brasil, também exigíamos no passado que os competidores participassem de eventos nacionais para pontuar no ranking. Agora, os torneios locais também servem para esse objetivo. São flexibilidades que abrem caminho para os jovens se interessarem pelo boliche. Há alguns anos, tínhamos três juvenis no ranking nacional. Agora, são 20”, explica Guy Igliori. 
 
Entre os planos da CBbol para fomentar o desenvolvimento da modalidade em âmbito nacional, está a implantação de um programa de técnicos estaduais para a formação de atletas. Hoje, nem mesmo a Seleção Brasileira conta com períodos de treinamentos mais constantes, reunindo-se esporadicamente às vésperas das competições internacionais de maior relevância. “É necessário dar suporte aos jovens para desenvolver a técnica, como aplicar curva na bola, por exemplo. Os EUA contam com boliches públicos, mas, no Brasil, o atleta tem de pagar por hora de treino. Isso custa caro. É necessário abrir parcerias para suprir essas carências”, comenta o dirigente esportivo. 
 
Apesar das dificuldades estruturais, o Brasil vem mantendo bom nível internacional, segundo a avaliação do presidente da CBbol. Nos Jogos Pan-Americanos de 2007, no Rio, o Brasil conquistou a medalha de prata nas duplas masculinas, com Fabio Rezende e Rodrigo Hermes. Nas três edições seguintes do evento, Marcelo Suartz manteve o país no pódio (bronze, ouro e prata). Nos Campeonatos Mundiais, Marcelo ficou na quinta posição, em 2016, e no sétimo lugar, no ano passado, em torneios disputados no Catar e nos EUA, respectivamente. 

"Passei por algumas dificuldades pessoais recentes. Por isso, minha preparação para o Pan foi focada no aspecto mental, com muita monitoria e meditação. Não teria conseguido sem esse suporte psicológico”
Marcelo Suartz, medalha de prata nos Jogos Pan-Americanos de Lima
 
<i>(Foto: Minervino Junior/CB/D.A Press)</i>

Recuperação da federação local

Praticante de boliche há 30 anos e apaixonado pela modalidade, Luiz Afonso, 56, preside a Federação Brasiliense. Em 2009, inaugurou em parceria com três sócios o espaço dedicado ao esporte no Shopping Pier 21. Com 16 pistas e investimento de cerca de R$ 3,5 milhões, o empreendimento emprega 22 funcionários e serve de base para o desenvolvimento local de novos praticantes.

“Hoje, organizamos campeonatos que recebem de 30 a 40 jogadores. No passado, eram cerca de 110 por evento. Temos 300 filiados e metas de parcerias para reestruturar a expansão da modalidade em Brasília”, comenta o empresário e dirigente esportivo. Por conta de um racha de relacionamento ocorrido há 16 anos, a pista de boliche do ParkShopping, que apoiava as iniciativas da federação local, deixou de oferecer o apoio. Até que Luiz Afonso inaugurasse o próprio espaço e reestruturasse a entidade, a capital do país atravessou um hiato, que provocou esvaziamento de competidores e prejuízo na formação de atletas.

Otimista e entusiasmado com a boa fase dos trabalhos, o empresário dirigente busca parcerias institucionais, públicas e privadas, para fomentar o desenvolvimento do boliche em Brasília. “Conversamos com escolas, com a Secretaria de Esportes e entidades privadas ou governamentais para atrair mais praticantes. Oferecemos aulas e organizamos ao menos dois eventos de âmbito nacional por ano”, comenta. A Taça Brasília, realizada em maio passado, reuniu 105 atletas de todo o país. Neste Campeonato Brasileiro de Tercetos, são esperados mais de 70 competidores, de nove estados e do DF.

No Brasil, a prática de boliche não é exatamente popular, mas há público cativo e a ser conquistado. A hora-aula no espaço no Pier 21, com professor de currículo internacional, custa R$ 75. O aluguel da pista, que pode ser dividido com pequenos grupos de amigos, sai por R$ 100/hora, de segunda a quarta-feira, e R$ 165/hora, de quinta-feira a domingo. 

Para se manter sustentável nos negócios, Luiz Afonso revela que a receita é apostar na diversidade e capilaridade. “O boliche custa caro, requer materiais importados e consome muita energia elétrica. Por isso, alugamos o espaço para festas, promovemos show musicais e outros eventos. Temos serviço de bar e restaurante. Está em planejamento ainda a instalação de painéis fotovoltaicos para suprir a demanda de energia. Não somos um empreendimento milionário, mas também não sofremos prejuízo”, comenta o empresário. 
 
 
Campeonato Brasileiro de Tercetos
Quando: desta sexta-feira (13) a domingo (15)
Local: Shopping Pier 21
Horário: das 8h30 às 18h
Entrada franca