Vôlei

ENTREVISTA

Bernardinho diz ainda estar de luto pela saída do comando da Seleção de vôlei

Técnico falou ainda que não treinará time fora do Brasil, criticou legado olímpico e disse apoiar jogadores na polêmica com transmissão na internet

postado em 24/02/2017 12:51 / atualizado em 24/02/2017 14:28

Bárbara Cabral/Esp. CB/D.A Press


Passados seis meses da conquista do ouro olímpico com a Seleção Brasileira de vôlei masculina — a sexta medalha olímpica como treinador, Bernardinho confessa que ainda sofre com a decisão de deixar o comando da equipe, anunciada em janeiro. “Confesso que estou ainda um pouco perdido. É uma espécie de luto.” 

Na véspera de enfrentar o Brasília Vôlei, às 21h30, nesta sexta-feira (24/2), no Ginásio Sesi Taguatinga, o técnico do Rio de Janeiro ainda reiterou que nenhum convite para treinar um time fora do Brasil o interessou, por mais “sedutores financeiramente” que tenham sido: “Não vou deixar a Seleção para treinar um outro time. Que sentido tem?”. Confira a entrevista em que Bernardinho ainda fala sobre o legado olímpico e a polêmica das transmissões dos jogos na internet. 

Como está a vida após a saída do comando da Seleção Brasileira masculina? 
Confesso que estou ainda um pouco perdido. É sofrido para mim. Todas as pessoas que eu encontro na rua me agradecem, mas dizem que estão chateadas pela minha saída. É uma espécie de luto, mas faz parte”.

Pretende comandar um time fora do Brasil?
Eu estou em um momento diferente. Quanto ao futuro, a gente tem um time para cuidar e um projeto para continuar, não apenas vencendo, mas mostrando um trabalho sério e que tem um caráter social por trás também. Também quero continuar estudando, aprendendo e inspirando pessoas. Eu tive alguns convites de fora com a notícia da minha saída da Seleção, muito sedutores financeiramente, mas que não me interessam. Não vou deixar uma grande equipe como é a Seleção Brasileira para treinar um outro grande time na Europa. Que sentido tem? Se fosse assim, continuaria na Seleção. Só a possibilidade de treinar um time universitário nos Estados Unidos me interessou mais, porque teria a questão de juntar educação, área acadêmica e esporte. Pelas meninas, filhas, poderia ser uma oportunidade interessante também.  

Acredita que o Brasil teve algum tipo de legado olímpico?
“Nosso país não tem um patamar de renda que sustente grandes arenas. Nem o futebol, quem dirá o esporte olímpico. O grande legado que as pessoas não sabem entender e explorar é que os nossos jovens não têm perspectiva nem esperança. Por isso que o legado são as três medalhas do Isaquias ou o ouro da Rafaela Silva. Quem diria que a menina que saiu da Cidade de Deus, tão violenta e tudo, conseguiria essa façanha. Ela mostra que é possível, com disciplina, planejamento e investimento correto. É o Serginho com quatro medalhas olímpicas saindo da periferia de São Paulo. Esse é o verdadeiro legado. As obras, infelizmente, são excessivas para um país que não tem condições de mantê-las. Então, tinha que ser tudo temporário”.

Qual sua avaliação sobre as transmissões dos jogos na internet?
Acredito que os jogadores estão mais por dentro do processo do que eu. Eles querem que os patrocinadores sejam contemplados com mais exposição e, com isso, a gente tenha um mercado ainda mais forte. Eu estou do lado deles. Tem de se chegar a um acordo para que as transmissões possam acontecer. Esse é o futuro. As transmissões on line estão acontecendo em todas as ligas. Parece que houve um acordo já e acho que tem de se criar comissões para que isso seja permanente. Temos de lutar para que isso aconteça em todas as partidas e com qualidade para que possamos ter mais divulgação, mais fãs e mais pessoas com interesse em investir no vôlei brasileiro.

Qual sua avaliação sobre a criação de uma liga independente? 
Há muitos anos se fala em uma liga independente, mas passos precisam ser dados. É preciso se pensar fórmulas de se fazer, criar responsabilidades claras, punições também para aquilo que não for cumprido dentro das normas. Os clubes têm de ter autonomia e capacidade de gerir sua própria liga. Acredito que a confederação, se esse for o intuito da liga e da associação, teria a responsabilidade de dar o apoio técnico, de arbitragem e regulamentos. Mas todas as questões ligadas à questão de marketing e patrocínio seriam talvez tuteladas  por essa liga independente. É questão de negociar. Ninguém pode se furtar de debater o assunto e buscar o melhor para o vôlei, entendendo que a Seleção também é muito importante para os clubes. Ela forma os grandes ídolos nacionais que os clubes vão querer contratar. Então, não vale a reclamação de que o jogador fica muito tempo na Seleção.
 
O reencontro de mestre e pupilo
 
Bárbara Cabral/Esp. CB/D.A Press
 
Comandante do Rio de Janeiro na Superliga, Bernardinho vai enfrentar um dos muitos pupilos que criou nos 16 anos como técnico da Seleção Brasileira, cargo que entregou em janeiro. O rival dele é campeão olímpico Anderson Rodrigues, treinador do Brasília. Ao se reverem, na véspera do confronto, entre os treinos em Taguatinga, eles se abraçaram e contaram sobre  as primeiras lembranças que guardam um do outro.

Bernardo: Estava na Seleção masculina e acompanhando a Superliga masculina. O Anderson jogava no Sul e teve uma temporada espetacular. Mas ele nunca tinha passado por Seleção. Pensei que tinha de trazer aquele negão. Na primeira rodada da Liga Mundial, o Marcelo Negrão rompeu o tendão e chamamos o Anderson para ir à Alemanha. Encontramos ele de óculos sentadinho no aeroporto, meio abandonado. Ainda brincamos para dar a mão para aquele ‘negão’ que ele iria se perder na Alemanha. Outra lembrança divertida foi da primeira Olimpíada dele, em 2004. Ele chegou com um violão. O violão nem embarcou, ficou em São Paulo (risos).
 
Anderson: No meu primeiro contato, ele chegou para mim e falou para eu continuar trabalhando. Depois, vieram essas histórias na Alemanha. Mas o que me lembro do começo era que ele repetia sempre para eu controlar a força. E pensava: ‘Controlar a força? Não tem como’.

Programe-se
Superliga feminina - returno
Brasília Vôlei x Rio de Janeiro
Quando: sexta-feira (24/2), às 21h30
Local: Ginásio Sesi Taguatinga
Ingressos: R$ 20 (meia)